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Casa do Moinho

É a casa do moinho, na praceta. Uma entre muitas. Abram-se janelas e palavras voarão ...

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É a casa do moinho, na praceta. Uma entre muitas. Abram-se janelas e palavras voarão ...

39. Ele há coisas tramadas

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Ele há coisas tramadas.

Todos os cuidados acabam por ser poucos e para as crianças cujos pais vivem em pracetas diferentes, tudo é ainda mais difícil. Ou estiveram sem conviver fisicamente com o pai ou com a mãe nesta quarentena de mais de 40 dias ou andaram de cá para lá e de lá para cá, tentando escapar às malhas finas do Covid. Apesar do cuidado, apesar da sorte ou do azar, da assintomatia de sintomas ou de sintomas disfarçados, corações ao alto é o que se precisa quando os filhos oscilam num fio de prumo, cuja queda se faz sem rede de apoio.

Só sabe quem sente. E os filhos sentem mais que ninguém. Sentem que têm de correr riscos que os outros não, só para poderem estar com o pai ou com a mãe. Sentem preocupação a dobrar. Sentem-na pelos que aqui ou acolá estão. E sentem a responsabilidade de poderem ser mensageiros de uma mensagem que ninguém quer receber, mas que para eles tem o custo de conseguirem sobreviver. Sobreviver à saudade do pai ou da mãe, à dos irmãos ou à dos avós...Sobreviver à preocupação que invade os seus minúsculos, mas grandiosos, corações e ao medo de trazer na bagagem o covid de casa em casa.

Nenhuma decisão é fácil e a lei não se intrometeu. Estabeleceu que se permitisse que, de praceta em praceta, pais e mães, os filhos pudessem receber.

E no meio disto tudo, há uma imensa solidão. A solidão de quem vai e vem, para poder ter à vez o pai ou a mãe. A solidão de quem não tem na mesma praceta o pai e a mãe a segurar cada uma das mãos e a dizer baixinho e de forma confiante, vamos esconder-nos do covid juntos e aqui neste cantinho. E se há verdades aceites e regras definidas, que mapeiam este vaivém em tempos descovidados, as incertezas, as inseguranças e as saudades de tempos passados invadem quem dos ninhos, cedo de mais foi empurrado.

E se para os pais adultos, isto já é complicado, imagine-se para uma criança, neste círculo desamparado. Desamparado não dos pais, mas sim daquelas certezas, que nos servem de conforto, quando do sofrimento, conhecemos quase nada. 

Se no início pareceu justo, este covid que a todos ataca, agora sob lente afinada, o mesmo deixa antever uma balança desequilibrada. Ataca mais os que menos têm, ataca mais os que menos sabem, ataca mais os que pisoteiam pracetas desirmanadas. Desirmanadas de famílias, desirmanadas de aconchego pleno, voem, voem passaritos, voem de corações cheios. Cheios de coragem, cheios de esperança, cheios de liberdade e de dignidade imensas, cresçam com força e inteligência para cuidar de todas as crianças.

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